A Ciência da Computação e a Inteligência Artificial (IA) são tópicos intimamente relacionados. Entre muitos assuntos, a Ciência da Computação engloba o estudo de algoritmos, estruturas de dados, programação e várias frentes tecnológicas, como banco de dados, web, sistemas operacionais, redes de computadores e IA. A IA, segundo uma das definições mais usuais, é o ramo da Computação que utiliza conceitos e ferramentas para criar modelos e métodos computacionais que simulam a inteligência humana.
Mesmo sem ter muita certeza de qual profissão ou área optar, há cerca de três décadas, Thiago Alexandre Salgueiro Pardo pressentia que a Computação tomaria as rédeas de um mundo tecnológico. Nesse momento, ele não imaginava que a IA seria um de seus ramos com potencial para transformar o nosso modo de viver na atualidade.

Hoje, Pardo faz parte da equipe de professores do MBA em Inteligência Artificial e Big Data do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. O pesquisador reconhece que compor o corpo docente fortaleceu sua bagagem acadêmica.
“Apesar de ter um histórico de pesquisa em parceria com grandes empresas e de trabalhar com ciência aplicada muitas vezes, eu me considero um profissional mais acadêmico. Atuar no MBA me permitiu equacionar melhor essas questões ao ter que ensinar de forma didática assuntos conceitualmente e tecnicamente sofisticados para um público diverso e ao ter que supervisionar trabalhos de TCC que muitas vezes são bastante aplicados e que vêm de contextos profissionais específicos. Acredito que aprendi muito em tais aspectos e sou muito grato ao MBA por ter me oportunizado isso”, diz o cientista da computação, que leciona na USP São Carlos desde 2006.
Pardo ministra o curso de Processamento de Linguagem Natural (PLN) desde a primeira edição do MBA, que começou a ser oferecido em julho de 2021. A atividade faz parte do módulo avançado, sendo bastante procurado, pois “PLN se tornou um dos assuntos mais quentes da atualidade e que movimentam este tipo de mercado, principalmente depois da popularização dos chamados Large Language Models (LLMs)”, ou seja, os grandes modelos de língua, como o conhecido ChatGPT e seus similares que revolucionaram o jeito que a IA tem abordado e resolvido muitos problemas da área.
Além de ser professor do MBA em IA e Big Data, Pardo orientou estudantes do próprio curso e faz parte atualmente do seu Comitê Gestor. Nesse comitê, ele contribui nas discussões dos conteúdos dos cursos, das demandas apresentadas pelos alunos e em como avançar na sua oferta e na qualidade do que é ofertado.
Mas Thiago, por pouco, não foi parar em um campo completamente diferente do que está mergulhado hoje.
A seguir, vamos contar para você!
História
Thiago nasceu em Bauru (SP), a 370 km da capital, em 1978, sete anos após a criação do ICMC. O paulista passou parte da infância no município bauruense e, depois, se mudou com a família para Sorocaba, localizada a 100 km da cidade de São Paulo.

Era um bom aluno, não tinha problemas para passar de ano desde o Ensino Fundamental e já alimentava um manejo para as disciplinas de Exatas. Ainda assim, não deixava o restante de lado, tanto é que, ao fim do Ensino Médio, chegou a se inscrever para Direito em um vestibular e ponderava também sobre cursar Química, Física ou Biologia.
Um curso introdutório de Computação, todavia, no início do ensino médio, veio a instigá-lo a insistir por essa área. “Não tinha muita certeza de que queria estudar (Ciência da) Computação. Eu tinha feito um curso introdutório em uma escola de informática e achava que a Computação seria o futuro, com a possibilidade de ter uma carreira promissora”, conta Pardo.
As outras áreas logo ficaram para trás e o paulista foi aprovado para o curso de Bacharelado em Ciência da Computação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em 1996. “Depois que entrei em Computação, nunca mais pensei em mudar”, admite Thiago, que completou a graduação em 1999.
Inteligência Artificial na veia
Mas a paixão pela Computação só veio mesmo quando teve os primeiros contatos com IA. “Na graduação, me interessei de verdade por Computação quando conheci Inteligência Artificial, graças a um convite para assistir a uma série de seminários da área organizado por uma professora que depois foi minha orientadora de iniciação científica e mestrado. O assunto me encantava por causa dos desafios que trazia”, conta o bauruense.
Em seguida, Pardo emendou o mestrado em Ciência da Computação também na UFSCar, finalizando o processo em 2002. São Carlos continuou sendo sua casa no próximo degrau da pós-graduação, porém a “Federal” deu lugar ao ICMC, onde ele terminou seu doutorado em 2005 no programa de Ciências da Computação e Matemática Computacional.
Um ano depois, o pesquisador, já doutor pelo próprio ICMC, iniciou sua jornada como professor na instituição. Em 2015, Pardo conquistou sua livre-docência na USP.
Fascínio por PLN
Hoje, o pesquisador tem experiência na área de IA, atuando principalmente nos temas de PLN, mais especificamente com análise de sentimentos e mineração de opiniões, e modelagem e tratamento computacional de níveis de representação linguística, como a sintaxe, a semântica e o discurso e suas aplicações variadas, como sistemas de detecção de notícias falsas e de sumarização automática.
PLN é o ramo da Inteligência Artificial que visa capacitar a máquina a lidar com as línguas humanas, fazendo tarefas como tradução automática, análise de sentimentos, sumarização de textos e perguntas e respostas, entre muitas outras atividades.
Segundo ele, não demorou muito para descobrir que aquilo o fascinava de tal maneira que virou sua principal linha de pesquisa e estudo. “Desde o início, eu já me envolvi com o ramo de Processamento de Linguagem Natural. E ensinar a máquina a ‘ler e escrever’ era um desafio que envolvia outras frentes além das Ciências Exatas. E acho que isso fez a diferença para mim”, analisa o cientista paulista.
Além de lecionar sobre PLN no módulo avançado do MBA, Thiago também participa de projetos que unem a academia com empresas, como a Samsung e a Motorola.

“Esses projetos são parcerias de universidades com empresas para desenvolver pesquisa aplicada, muitas vezes. No caso da Samsung, eu era um dos coordenadores do lado do ICMC, além de orientar trabalhos de graduação e pós-graduação. O coordenador é aquele que organiza os trabalhos da equipe e conduz o projeto, além de lidar com as questões formais e burocráticas desse tipo de iniciativa, representando a universidade”, detalha o pesquisador, que segue na linha de frente de um projeto com a Motorola, ainda vigente (já em seu terceiro ano).
Futuro
Com seu trabalho no MBA e na vice-presidência do Departamento de Ciências de Computação (SCC), Thiago espera seguir formando profissionais capacitados para lidar com um futuro cada vez mais dominado pela IA. Para o cientista, suas novas tendências trazem e seguirão apresentando uma série de benefícios para a sociedade no futuro.
“Parte significativa da tecnologia atual incorpora IA, especialmente com os avanços dos últimos anos. Com o uso de LLMs, por exemplo, ganha-se em robustez, tanto em termos de pesquisa e desenvolvimento na área quanto em termos de uso prático no dia a dia. Essas técnicas recentes de IA são na maioria das vezes mais poderosas que as técnicas das gerações anteriores e também mais versáteis, sendo capazes de lidar com tarefas mais variadas e apoiar pesquisadores e usuários finais de tecnologia”, conclui Pardo.
Texto: Matheus Martins Fontes, da Fontes Comunicação Científica