Motivado pelas experiências pessoais enquanto estudante e pela vivência profissional em startup de enfoque social, o economista Pedro Dittmar desenvolveu durante o MBA em IA e BigData da USP, em São Carlos, um modelo de negócio de alto custo-benefício baseado em inteligência artificial (IA) para promover impacto social.
A pesquisa, intitulada “Tutoria para o ENEM com Inteligência Artificial: alavancando tecnologias para democratizar oportunidades”, é resultado do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e propõe uma solução de tutoria para ajudar estudantes a se preparar para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) – principal porta de entrada para as universidades públicas brasileiras.
“Tive facilidade com o ENEM quando prestei a prova não porque dominava todos os conteúdos, mas porque conseguia, até certo ponto, deduzir as respostas a partir das próprias perguntas. Foi nesse ponto que percebi o potencial da inteligência artificial como uma ferramenta de treino estratégico”, relata.
Pedro afirma que sua proposta não é substituir o papel dos professores de ensinar os conteúdos, mas sim propor uma ferramenta que possa fornecer um sistema individualizado de recomendação de estudo e uma assistente virtual para tirar dúvidas. “A tecnologia proposta faz sentido se pensarmos que o modelo tradicional de educação não dá conta de oferecer uma atenção individualizada a cada aluno”, destaca.

Como a proposta foi desenvolvida
A pesquisa se baseia em um plano de negócio estruturado que descreve os investimentos necessários para desenvolver a ferramenta, a tecnologia utilizada, a equipe necessária para o desenvolvimento e suporte, o público-alvo, entre outros aspectos.
Assim, a ideia é desenvolver uma plataforma, que estará disponível tanto em dispositivos móveis quanto em computadores, oferecendo um sistema de chatbot tutor, no qual o estudante pode interagir com um modelo de IA treinado para responder dúvidas. Esse sistema também irá monitorar o desempenho do aluno a partir de provas do próprio ENEM, realizadas pelo estudante como um simulado, averiguando quais conteúdos ele deve priorizar nos estudos.
“Através dos dados, conseguimos medir o desempenho, identificar onde um estudante está tendo dificuldades e onde tem facilidade. Assim, conseguimos recomendar de forma precisa quais conteúdos ele deve focar mais para otimizar seu aprendizado”, explica o pesquisador.
A ferramenta combinaria Large Language Models (LLMs) – que são modelos de IA capazes de interpretar e gerar textos de forma coerente – com um sistema de recomendação de questões personalizadas, fundamentado na Teoria de Resposta ao Item (TRI). A TRI é a metodologia utilizada no próprio ENEM para calcular as notas dos candidatos, levando em conta não apenas a quantidade de acertos, mas também a coerência desses acertos em relação à dificuldade das questões.
“Com essa metodologia é possível, por exemplo, que um candidato acerte mais questões, mas obtenha uma nota inferior a outro que acertou menos, devido à coerência de seus acertos em relação ao nível de dificuldade das questões”, contextualiza.

Perspectivas
Pedro enfatiza que estruturar as funcionalidades da solução de forma coerente e eficiente foi um dos maiores desafios do projeto. Embora ainda não tenha desenvolvido um produto final consolidado, o trabalho apresentado já define os princípios do sistema de recomendação, seus parâmetros e diretrizes de funcionamento. Ele acredita que tais elementos já tornam a proposta atrativa do ponto de vista de potenciais investidores e parceiros interessados na sua implementação.
O pesquisador estima ser necessário um investimento de R$133 mil para o desenvolvimento do Produto Mínimo Viável (PMV) e testes iniciais com usuários. Em meio a uma transição de carreira e atuando como analista de dados em uma startup, o paulistano busca viabilizar sua pesquisa através de editais promovidos pelo governo e organizações filantrópicas. Além disso, ele diz que irá buscar estabelecer parcerias com escolas e governos, que serviriam como canais de distribuição da plataforma, tornando a proposta escalável.
“Meu desejo é que essa tecnologia seja um meio inteligente de ampliar o acesso a oportunidades”, afirma Pedro. “Sabemos que os desafios da educação são complexos e não há uma solução única, mas acredito que a IA pode desempenhar um papel significativo na construção de um cenário mais acessível e equitativo”, finaliza.
Texto: Gabriele Maciel, da Fontes Comunicação Científica
Mais informações: Interessados e potenciais investidores podem entrar em contato diretamente com o pesquisador pelo e-mail: pedrodittmar@gmail.com.