Conheça José Fernando Rodrigues Jr. e descubra como videogames e consertar coisas influenciaram destino do professor do MBA em IA e BigData

Hobbies de infância moldaram sua vocação para a Ciência da Computação. Atualmente, José Fernando ministra duas disciplinas no MBA do ICMC, curso referência em Inteligência Artificial e Big Data na América Latina

José Fernando Rodrigues Júnior sempre teve dois hobbies desde que se entende por gente: videogames e montar ou consertar coisas. O brinquedo digital foi o embrião para que o paulista de Araraquara seguisse no universo computacional. Já o fascínio por desmontar, entender e montar objetos guarda uma conexão interessante com o ensino, que também exige entender, diagnosticar e resolver problemas — tudo com o intuito de transformar.

Dado esse histórico de atividades que sempre lhe deram satisfação, não surpreende que, mais de quatro décadas depois, ele faça parte da equipe de professores do MBA em Inteligência Artificial e Big Data do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Hoje, é responsável por parte da disciplina introdutória de Linguagens e Ferramentas, no Módulo de Fundamentação, e também por Gerenciamento e Processamento Paralelo de Dados em Larga Escala, do mesmo módulo.

Conhecido como Júnior em São Carlos, ele está no ICMC há quase 28 anos — da graduação, iniciada em 1997, até ocupar a chefia do Departamento de Ciência da Computação entre 2021 e 2025. Com passagens pela UFSCar (campus Sorocaba) e por instituições nos Estados Unidos e França, onde complementou sua formação, foi no ICMC que encontrou sua referência acadêmica.

De trepar em goiabeira para a sala de aula 

O Prof. José Fernando cresceu em uma família de classe média típica dos anos 80, quando telefone era artigo de luxo e aeroporto, coisa de televisão. Filho de um vendedor e de uma professora do antigo 1º grau — ambos sem ensino superior — abraçou os estudos como melhor alternativa de vida. Após 11 anos na mesma escola pública, o EEBA de Araraquara, encarou o vestibular.

Naquele tempo, o vestibular tinha uma porta só – sem cota, bônus, nada, nem inscrição gratuita. Eu estudei um bocado para passar. Sabia que era minha melhor alternativa”, conta.

No vestibular, optou pela USP de São Carlos, pela proximidade com Araraquara (a 45 km de distância) e por se tratar de Ciência da Computação, deixando para trás oportunidades de cursar Engenharia Civil na Unicamp e Matemática na Unesp, em Rio Claro.

Muito antes de dominar o âmbito computacional nas áreas de Bancos de Dados, e Ciência de Dados, José Fernando cresceu em Araraquara, junto das irmãs, no fim da década de 1970 e início de 1980. E não é porque gostava de videogame que deixava de lado as brincadeiras corriqueiras de quem cresce no interior.

“Cresci trepando em pé de goiaba e nadando em rio em Araraquara. Acho que fui da última geração a fazer isso por lá”, brinca ele, puxando da memória flashes de nostalgia.

Júnior, como é conhecido em São Carlos, já tem quase 28 anos de vida acadêmica no ICMC-USP | Foto: Arquivo Pessoal

A princípio, José Fernando confessa que gostaria de ser engenheiro civil, porém a mídia televisiva da década de 1990 falava muito do futuro da computação, o que o convenceu de que essa área era promissora.

“Como sempre gostei de videogames, que são computadores, e tinha feito um curso de programação em BASIC em 1990, acabei considerando fazer Computação”, justifica.

A trajetória no ICMC-USP

No ICMC, José Fernando completou sua graduação em Ciência da Computação um semestre antes de sua turma, em junho de 2001. Ainda na graduação, já iniciou o Mestrado em Ciências da Computação e Matemática Computacional, tornando-se Mestre em 2003. Sem perder tempo, concluiu o Doutorado em 2007; sua tese versou sobre o projeto de técnicas de análise visual de dados, promovendo uma nova compreensão para representações visuais de dados. Um projeto inovador no qual o paulista contou com a orientação de um professor da Carnegie Mellon University, nos Estados Unidos, local onde tinha se aventurado durante o doutoramento.

O Prof. José Fernando conquistou sua livre-docência em 2016 no ICMC-USP e, em seu pós-doutorado, trabalhou em Aprendizado de Máquina na Université Grenoble Alpes, na França, em 2020. Aos 47 anos, ele é membro da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), revisor e autor em sua área, tendo contribuído com publicações em grandes periódicos e conferências no Brasil e no exterior. Pesquisador atuante, já coordenou oito projetos de pesquisa financiados pela Fapesp ou pelo CNPq. Atualmente, atua com foco em Aprendizado de Máquina e Bancos de Dados, aplicando técnicas computacionais aos domínios da medicina e agricultura.

Atribuições no MBA em Inteligência Artificial e Big Data

No MBA, José Fernando distribui bem seu conhecimento. Na disciplina Linguagens e Ferramentas/Frameworks (Python e SQL), o foco está em conceitos fundamentais de bancos de dados — tecnologia onipresente no cotidiano atual:

“Qualquer pessoa, hoje em dia, sem perceber, interage com dezenas de bancos de dados, uns dez ao longo de um único dia. Todos seguem conceitos fundamentais que definem este tipo de tecnologia”, explica.

Já na disciplina de Gerenciamento e Processamento Paralelo de Dados em Larga Escala, o objetivo é “estudar as tecnologias que permitem o processamento de volumes realmente grande de informações, quando é necessário usar múltiplos computadores trabalhando em sincronia”.

Para o Professor, ministrar as aulas no MBA é uma forma de renovar seu conhecimento e de ampliar sua experiência ao ter contato com estudantes de várias regiões do Brasil.

“O MBA é uma oportunidade para se aprender, pois ensinar é a maneira mais eficaz de aprender. Ao se trabalhar com conceitos avançados de bancos de dados e processamento paralelo distribuído, torna-se possível entender como grandes players da indústria conseguem processar serviços computacionais em larga escala, como as redes sociais, o sistema bancário, e repositórios de informação. Interagir com alunos de diversas regiões do país, de diferentes setores e indústrias também é muito rico. Traz perspectivas amplas que engrandecem nossa percepção social e profissional”, conclui o professor.

Cientista da computação, o Prof. José Fernando saiu do interior de São Paulo para desenvolver projetos com abrangência internacional | Foto: Arquivo Pessoal

Como se pôde notar, os hobbies de jogar videogame e consertar coisas contribuíram para que sua carreira convergisse para a pesquisa e o ensino como cientista da computação. Suas disciplinas ministradas no MBA estimulam o desenvolvimento de habilidades para resolução de problemas, pensamento crítico, e capacidade de aplicar conhecimentos técnicos para solucionar desafios práticos.

No ensino, o Prof. José Fernando conseguiu ajudar os alunos a entenderem que construir soluções também pode ser um hobby. E isso vai muito além da sala de aula.

Texto: Matheus Martins Fontes, da Fontes Comunicação Científica

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