Conheça Rudinei Goularte, o professor da USP que leva a precisão do tênis para a análise de dados multimodais

Docente do MBA em IA e Big Data, ele transforma texto, imagem, som e vídeo em informação estratégica com a mesma atenção e técnica que dedica às partidas nas quadras

Quando entra em quadra para jogar tênis, o professor Rudinei Goularte precisa estar atento a sinais visuais, sonoros e até corporais para decidir, em segundos, qual será sua próxima jogada. Essa habilidade de integrar múltiplas informações rapidamente tem muito em comum com a área de pesquisa à qual ele se dedica há anos: a análise multimodal. Foi na década de 1990, quando cursou Ciência da Computação, que o professor do MBA em Inteligência Artificial e Big Data da USP São Carlos, se apaixonou pela possibilidade de ensinar o computador a combinar texto, imagem, som e vídeo para gerar uma representação mais compacta.

“Quando você abre o Netflix, espera ver ali sugestões de filmes que tenham a ver com o seu gosto, porque ninguém quer perder tempo vasculhando o catálogo inteiro”, explica, empolgado. “Mas como é que o sistema entende o que está nos trechos dos filmes, nos diálogos, nos áudios? É aí que eu entro. Eu pego essas informações, visuais, textuais, sonoras, e transformo em dados que o algoritmo da Netflix pode usar. Porque se o algoritmo tivesse que percorrer tudo, quadro a quadro, cena a cena, ele não conseguiria te sugerir nada com rapidez, nem com precisão. Então, eu deixo isso tudo pré-processado”.

Essa mesma abordagem é o que ele busca inspirar na disciplina que ministra no MBA, Análise de Dados Multimídia. “Como é que eu gero e analiso um grande volume de dados para transformar isso em informação útil? Como represento esses dados de forma nova, mais eficiente e compreensível?”, questiona. A proposta da disciplina é justamente ensinar técnicas que permitam extrair sentido de dados complexos, sejam eles visuais, textuais ou sonoros.

Rudinei compartilha com a esposa, também professora da USP, os cuidados com os filhos, um menino de 13 e uma menina de 8 anos | Foto: Arquivo pessoal 

Percurso

Nascido em Campo Grande (MS) e filho de um bancário, o professor percorreu muitos caminhos e sotaques antes de se estabelecer em São Carlos (SP). A infância itinerante, vivida ao lado dos pais e de duas irmãs, incluiu temporadas em cidades como Cuiabá (MT), Goiânia (GO) e Caxias do Sul (RS), experiências que moldaram sua personalidade resiliente e sua facilidade em fazer amigos por onde passa. Não à toa, Rudinei acumula homenagens dos alunos, sendo escolhido como melhor professor pelas turmas de graduação da USP. Mas apesar de ter fincado suas raízes em São Carlos, seu coração tem um apreço maior pela terra natal, onde estão seus familiares e muitos amigos e onde ele encontra a erva pro seu Tereré com muito mais facilidade. “Quando está muito quente, sinto falta”, diz.

Fã de esportes desde a juventude, o professor Rudinei conta que o tênis se tornou sua grande paixão nos últimos três anos. Antes disso, nos tempos de escola, passava as tardes entre partidas de futebol e vôlei com os amigos. Admirador do ex-tenista espanhol Rafael Nadal, ele busca no esporte uma forma de se manter ativo: “O tênis me permite dosar o esforço físico de acordo com minha capacidade atual”.

Apesar de não considerar a modalidade fácil, ele se dedica com entusiasmo. Faz aulas, pratica com frequência e até lê sobre o assunto para melhorar seu desempenho. “O tênis é um jogo muito técnico e muito mental. Por isso, sempre busco evoluir?”.

Rudinei lembra que essa mesma disciplina o acompanhava desde os tempos de escola, quando estudava de forma metódica, mas assim que terminava, fechava os livros e ia jogar bola com os amigos. Aliás, sua inclinação para a área de ciências exatas não surgiu de forma natural, já que a matemática não era seu ponto forte.  “Eu ia muito melhor em gramática, interpretação de texto e redação. Sempre gostei muito de ler”, lembra.

Ele acredita que essa combinação foi justamente o seu diferencial para ser aprovado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul: “Me saí bem nas matérias em que muitos dos candidatos, que eram excelentes em matemática, tinham mais dificuldade. Acabei equilibrando o desempenho e isso me ajudou bastante no vestibular”.

Já na faculdade, enquanto as disciplinas de cálculo lhe exigiram rigor e maior dedicação, as de programação lhe empolgaram e o caminho da pesquisa acadêmica foi algo que surgiu após perceber, através de um estágio, que ele gostava mesmo era de pesquisar. As conversas com dois professores que haviam estudado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP reforçaram sua decisão de cursar o mestrado em São Carlos.

Apesar de ter sido aprovado primeiro na USP da capital, inclusive com bolsa de estudos, ele preferiu esperar o resultado da Escola de Verão do ICMC. Os alunos com melhor desempenho no curso intensivo, realizado entre fevereiro e março, receberiam bolsas de mestrado e Rudinei foi um dos selecionados.

“São Paulo sempre me causou alguma apreensão, por ser uma cidade grande demais. Eu preferia uma vida um pouco mais pacata e estava gostando de São Carlos. Na época, não havia tantas opções de lazer, mas a gente se reunia e inventava o que fazer. Foi um período muito gostoso. Decidi que terminaria o curso de verão, conseguiria uma dessas bolsas e ficaria por aqui. E deu certo”, comemora.

E se o destino não fosse generoso o suficiente, um mês após defender sua tese de doutorado no ICMC, Rudinei viu surgir exatamente a oportunidade que precisava: uma vaga em concurso para professor na própria USP São Carlos.

“Na época, a USP estava expandindo cursos e aumentando o número de vagas. Vários concursos foram abertos em diferentes unidades. Foi uma coincidência feliz. Eu estava terminando o doutorado e os concursos já estavam acontecendo. Prestei a prova, fui aprovado e comecei como professor no início de 2004”.

 Nos finais de semana, o professor Rudinei valoriza o tempo com a família | Foto: Arquivo pessoal 

Equações

Dois momentos marcaram profundamente a trajetória de Rudinei, cada um à sua maneira. O primeiro foi a conquista da livre-docência, que representou mais do que um avanço acadêmico. Para ele, foi uma pausa estratégica, um convite à introspecção e ao planejamento consciente da carreira. “Foi o momento de colocar tudo em perspectiva, foi transformador, porque pude ver algumas coisas que realmente não iriam funcionar e outras possibilidades que poderiam dar muito certo”, relembra. A partir dessa análise, ele reorganizou prioridades, ajustou métodos de trabalho e reconfigurou suas linhas de pesquisa com mais intencionalidade.

Anos depois, veio uma transformação ainda mais profunda e pessoal: a paternidade. Com o nascimento do primeiro filho aos 40 anos, seguido da filha caçula, Rudinei passou a enxergar o tempo sob outra ótica. “Antes, meu tempo era só meu. Agora, preciso administrar o tempo para cuidar dos meus filhos, eles têm prioridade”. Conciliar a vida acadêmica com a familiar, sendo pai de um pré-adolescente, de 13 anos e de uma menina, com 8 anos, exige adaptações, como deixar para escrever um artigo depois que eles vão para cama dormir.

“Eles geralmente vão dormir às 21 horas. Aí, dependendo do meu nível de cansaço, eu trabalho um pouquinho. Tento conciliar, mas não é uma equação fácil. Tenho as minhas próprias ambições e tento controlá-las para elas não ficarem muito exageradas”.

Essa visão equilibrada que busca levar a vida, acaba se refletindo na forma como conduz suas aulas. Para Rudinei, ensinar é mais do que transmitir conteúdo: é criar um ambiente de acolhimento, diálogo e propósito. “A gente precisa ser verdadeiro dentro de sala de aula, para não parecer algo forçado. Essa relação com os alunos, esse diálogo, é fundamental. Com abertura, consigo explicar por que determinado conteúdo importa, ou por que estou avaliando de um jeito específico. Isso ajuda muito na aprendizagem”.

Professor em evento científico visitando o museu Casa de Portinari, localizado na cidade de Brodowski, interior do estado de São Paulo | Foto: Arquivo pessoal 

Texto: Gabriele Maciel, da Fontes Comunicação Científica

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