Conheça Agma Machado Traina, a ‘memória computacional’ do MBA em IA e BigData da USP

A docente se recusou a seguir para Odontologia e soma trajetória invejável em Ciência da Computação; no MBA, ministra as disciplinas de Recuperação de Imagens por Conteúdo e Visualização de Dados, ambas do Módulo Avançado

“A Computação será o futuro do Brasil”. Foi dessa forma que Agma Juci Machado Traina recebeu o conselho do tio publicitário sobre o que priorizar quando chegasse a hora do vestibular. E olha que a paulistana, se dependesse do pai, teria trocado os computadores pelas brocas, polidores e alicates em um consultório odontológico. 

O sonho do seu ‘velho’ era que Agma seguisse a carreira de dentista. Na fila do banco, para pagar a inscrição no vestibular da Fuvest, lá estava ela com dois boletos: um para o curso de Odontologia e outro para Ciência da Computação. Para qual direção seguir? 

Fã de Ciências Exatas, ela sabia que, desde o Ensino Fundamental, seu destino seria em uma profissão que exigisse conhecimentos principalmente de Matemática, Química e Física. Só por esse recorte, Computação já superava ‘Odonto’, mas isso não significava que a escolha de Agma seria tão simples.

Não sabia qual dos dois que eu ia pagar, só podia pagar um. Então, eu decidi: ‘Vou pagar o de Computação’. E prestei Ciência da Computação na Fuvest. Ou seja, não realizei o sonho do meu pai, mas eu realizei o meu”, lembra ela, aprovada na graduação pela USP São Carlos em 1980.

Hoje, 45 anos depois, Agma faz parte da equipe de professores do MBA em Inteligência Artificial e Big Data do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC-USP). A tranquila São Carlos, perto da agitada capital, já guarda as raízes da professora, que se sentiu acolhida desde a recepção dos calouros no início da década de 1980.

No MBA, a docente ministra as disciplinas de Recuperação de Imagens por Conteúdo e Visualização de Dados, ambas do Módulo Avançado. A linha de pesquisa de Agma está relacionada à Computação como auxílio na tomada de decisões na área da saúde, principalmente envolvendo a classe médica. 

“É algo que tenho feito nos últimos 30 anos da minha carreira. É uma área que eu acho extremamente fascinante, porque a gente vê como a Computação pode realmente trazer benefícios palpáveis e diretos para as pessoas. Trata-se de uma área extremamente motivante, é muito gostoso para se atuar. E ter tido a oportunidade de orientar alunos do MBA nessa área tem sido uma experiência prazerosa e muito gratificante”, enxerga a cientista da computação, com Doutorado em Física Computacional pela USP e com Pós-Doutorado na área pela Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, no estado norte-americano da Pensilvânia. 

Décadas depois da tal fila do banco, Agma está longe de se arrepender da decisão que impactou sua carreira. Vejamos os bastidores por trás dessa importante escolha. 

Trajetória

Com a família instalada na região de Santo Amaro, zona sul da capital, Agma nasceu em 23 de maio de 1962. Os pais fizeram muito bem a lição de casa com a filha, que foi sempre estimulada a estudar. Frequentou bons colégios nos Ensinos Fundamental e Médio, onde desenvolveu fascínio pela Matemática e as outras disciplinas de Exatas.

Agma é PhD em Física Computacional pela USP com Pós-Doutorado em Ciência da Computação pela Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos | Foto: Arquivo Pessoal/Agma Traina

“Sempre gostei muito de Matemática e de Ciências Exatas. Sempre foi aquilo que mais me motivava na escola, quando estava no Primário, no Ginásio e no Colegial, que era como a gente chamava antigamente os cursos. Sempre foram minhas melhores notas e Matemática era meu sonho”, recorda.

O pai, então, tentava ‘puxar a sardinha’ para o lado da Odontologia. Veio o tio, então dono de uma agência de publicidade, e a encorajou para algo que incluía Matemática entre os pré-requisitos necessários para uma graduação. 

“Meu tio sempre falava que a profissão do futuro era Computação. Eu, que gostava de Matemática, deveria fazer Computação, porque era o futuro do Brasil. Ele sempre falou muito sobre isso. E meu pai odiava, porque queria que fosse dentista”, recorda Agma. 

Odonto? Computação mesmo! 

O empurrão do parente foi mais que o suficiente para a adolescente ser aprovada na USP com apenas 17 anos no curso de Bacharelado em Ciência da Computação, no Campus de São Carlos, a 230 km da capital. “Nunca tinha saído de casa, então, para mim, foi algo muito interessante vir para o interior”, confirma Agma. 

Como uma memória parecida com a armazenada em um computador, Agma relembra cada detalhe da recepção dos veteranos. “Logo quando eu entrei na nossa turma de Ciência da Computação, havia 30 ingressantes e tinha uma festa de recebimento dos calouros. Hoje a gente vem com aquela ideia de que festa de calouros é trote. E da minha turma só apareceu um colega e eu. E é a festinha que o ICMC faz até hoje de acolhimento para os calouros. Lembro que viemos comer os salgadinhos e participamos da confraternização com os professores”, revela a paulistana.

Após terminar o primeiro ano da graduação, todavia, a então aluna ainda mantinha contato frequente com sua terra natal, já que fez um curso de verão na área de Probabilidade Estatística no Instituto de Matemática e Estatística (IME-USP). Só que, com apenas 365 dias de experiência, São Carlos já havia tocado Agma de um jeito muito especial.

“Eu vi como que era difícil em São Paulo, a locomoção da casa dos meus pais para o IME. Por outro lado, São Carlos é uma cidade muito agradável e que me acolheu de um jeito muito gostoso. O ICMC, então, é para lá de acolhedor”, compara a pesquisadora.

Após se tornar bacharel em 1983, Agma seguiu em São Carlos e emendou o mestrado em Ciência da Computação no ICMC de 1984 a 1987. Quatro anos mais tarde, finalizaria o doutorado em Física Computacional também na USP. 

Aberta a possibilidades para evoluir como pesquisadora, embarcou em 1998 para um período de pós-doutorado nos Estados Unidos amparada por uma bolsa da FAPESP. Ao retornar ao Brasil, Agma completou sua livre-docência em São Carlos, sendo uma das poucas do departamento com tal distinção.

Contribuições para a Ciência e para o MBA

Em mais de três décadas, Agma supervisionou mais de 60 alunos de pós-graduação e tem coordenado projetos de pesquisa em grandes redes nacionais e internacionais. A cientista da computação é referência nacional nos segmentos de Processamento Gráfico (Graphics) e Bases de Dados Complexos. 

Integrante do MBA em Inteligência Artificial e Big Data desde 2021, ela reconhece que sua linha de pesquisa caminha de mãos dadas com o conteúdo reforçado no programa do ICMC, já que IA e Dados estão intimamente ligados a ações variadas no dia a dia.

Na sociedade, a IA tem se tornado cada vez mais presente em diversas áreas, assim como a saúde, que abarca o foco estudado por Agma. As tecnologias de ponta oferecem novas possibilidades, como o aprimoramento de diagnósticos médicos, sistemas de arquivamento e distribuição de imagens, além do gerenciamento de todo esse banco de dados.

“A IA já está mudando definitivamente nossas atividades do cotidiano.  Costumamos dizer que dados são o ‘coração’ de praticamente tudo que fazemos em Computação. A IA nos permite usar os dados criados e armazenados para apoiar processos de tomada de decisão, deixando o trabalho humano com mais apoio, confiança e idealmente levando ao aumento da eficiência humana. Ou seja, os algoritmos e métodos que criamos são para o benefício humano em praticamente todas as áreas que nos envolvem”, destaca a docente da USP São Carlos. 

Seu marido Caetano também é professor do MBA em IA e Big Data da USP São Carlos | Foto: Arquivo Pessoal/Agma Traina

Fixada no interior, Agma considera sua carreira acadêmica muito rica pela oportunidade de conviver com profissionais das mais distintas áreas e empresas em São Carlos. “É um aprendizado mútuo, com bastante troca de conhecimento e experiências valiosas. É um prazer conversar com nossos alunos, ver como podemos apoiá-los nos seus interesses e desejos de criar novos processos e métodos. Sou privilegiada em participar do nosso MBA”, avalia ela.

Será que a cientista da computação não se arrepende de ter pagado a inscrição para Odontologia no vestibular? “Que bom que escolhi Computação. Eu sou muito feliz. Amo aquilo que eu faço. A escolha foi muito acertada.”

Texto: Matheus Martins Fontes, da Fontes Comunicação Científica

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