Entre grafos e lentes: conheça o professor Alneu de Andrade Lopes, que transforma dados em redes e instantes em imagens

Docente do MBA em IA e BigData da USP, Alneu é apaixonado pela natureza, por viagens de moto e pela fotografia, um hobby que o acompanha desde a juventude

Desde criança, o professor Alneu de Andrade Lopes tinha um fascínio que parecia não caber nas coisas fechadas. Abrir, observar e remontar foram hábitos instigados pelo convívio com o avô, marceneiro e curioso como ele, com quem aprendeu a mexer em carros, motores, relógios e mecanismos que revelavam, peça por peça, como o mundo funciona. Anos depois, o gesto permanece, mas mudou a matéria-prima. Em vez de engrenagens, ele atua como professor e pesquisador, buscando nos dados e nos grafos, as respostas para compreender o mundo ao seu redor.

Nascido em  Nioaque, uma pequena cidade de Mato Grosso do Sul, Alneu escolheu cursar Engenharia Civil porque era uma das únicas opções de cursos que se aproximavam da sua aptidão pela área de exatas. Mas, antes mesmo de se formar na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), nos anos de 1980, o caminho já se mostrava duro, em uma época de crise econômica, hiperinflação e de poucas oportunidades em sua área. Graças a um curso de programação que foi oferecido pelo Centro de Processamento de Dados do estado, ele não só acabou encontrando uma oportunidade, como esta acabou revelando sua verdadeira vocação. 

“Eu já tinha topado com alguns livros sobre computação na biblioteca da faculdade e achei aquilo interessante. Aí vi um cartaz na universidade em que a empresa de processamento de dados do estado daria um curso de programação, porque havia pouca mão de obra.  Resolvi fazer e logo na sequência consegui um emprego na área”, relembra.

Alneu (ao centro) com seu orientador de doutorado, professor Pavel Brazdil. “Ele é uma pessoa excepcional”, afirma | Imagem: Arquivo pessoal

Caminho para a docência 

Após dez anos trabalhando como programador e analista de sistemas, Alneu começou a sentir um incômodo: estava em uma área que não havia estudado formalmente, além de estar em uma empresa onde não havia um plano de carreira definido. “Percebi que queria algo mais estruturado, que me desafiasse intelectualmente”, conta. A solução foi o mestrado, e a área escolhida foi Inteligência Artificial (IA), área que já naquela ocasião aparentava ser um campo com grande potencial de evolução.

Esse desejo levou Alneu para São Carlos, cidade que oferecia uma vida mais acessível e abrigava o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC-USP), já reconhecido pelo seu prestígio acadêmico. “Se você me perguntasse quando criança o que eu queria ser, eu diria cientista. Estar no mestrado foi a realização de um sonho. Nunca mais quis voltar para o mercado de trabalho: a docência e a pesquisa eram muito mais atraentes”, lembra.

Pai de cinco filhos, o professor Alneu divide a rotina entre São Carlos, onde vivem os caçulas, e as visitas às filhas mais velhas, que moram em Mato Grosso do Sul e Goiás | Imagem: Arquivo pessoal

Concluído o mestrado, Alneu decidiu dar mais um passo e aplicou para o doutorado em duas universidades no exterior: o University College London e a Universidade do Porto, em Portugal. Apesar de ter sido aprovado nas duas, escolheu a segunda. “O grupo de pesquisa de Porto era bastante reconhecido, e acredito que ir para lá foi uma excelente decisão. Gostei muito da cidade e construí amizades duradouras com a equipe de lá”, recorda.

Durante o período no exterior, Alneu conheceu e conviveu com pesquisadores que continuam a ser suas referências como cientistas e professores. Entre eles, cita os renomados professores Tom Mitchell e seu orientador, Pavel Brazdil. “Eram pessoas abertas, generosas, que compartilhavam conhecimentos sem receio algum. Essa postura de generosidade intelectual me marcou profundamente e é algo que busco praticar”, destaca.

Em 2000, o professor registrou esta cena: “Considero que foi um prenúncio do vício digital de hoje, me chamou a atenção, mesmo em um local como Veneza, os turistas lotarem cybercafés para checar e-mails”. | Imagem: Arquivo pessoal

Dados e grafos em perspectiva

A área de pesquisa a que o professor Alneu se dedica é a Inteligência Artificial juntamente com o formalismo das  redes complexas. Para ele, isso é particularmente importante atualmente, onde tudo está conectado: redes de pessoas, de produtos (nos e-commerce), músicas e ouvintes, cidades e seus habitantes, medicamentos e doenças, para citar apenas algumas. 

Um exemplo sobre capacidade das redes de modelar e resolver problemas, são os sistemas de recomendação, como usados, por exemplo, na Netflix: se você usar uma rede que conecta pessoas aos filmes que elas gostaram, mesmo sem saber a idade, sexo ou a profissão delas, ou mesmo sem ter dados sobre esses filmes, é possível identificar grupos com gostos semelhantes. A partir daí, o sistema consegue prever novos títulos que cada pessoa provavelmente vai gostar.

Essa forma de estruturar os dados em redes tem se mostrado bastante relevante, segundo o docente, em inúmeros problemas reais. No MBA em IA e BigData da USP, Alneu ensina justamente a disciplina de Redes Complexas e Aprendizado em Grafos, incentivando os alunos a testar na prática essas potencialidades

“Às vezes só de construir e visualizar  a rede, os alunos já têm insights sobre os problemas em que eles estão trabalhando. Tenho um aluno que está querendo modelar um problema de economia aberta, por exemplo”, diz Alneu. 

Para o docente, esse aprendizado é transformador, especialmente para quem vem de outras áreas. “Digo em aula: diga-me com quem te conectas e direi quem és”, brinca. “As conexões contam histórias e são essas histórias que buscamos entender”, completa.

Foto tirada pelo professor Alneu se tornou cartão postal da cidade de São Carlos | Imagem: Arquivo pessoal

Fotografia em foco

Fora da universidade, o professor cultiva desde jovem a paixão pela fotografia, carregando sua câmera sempre que possível. Através do seu olhar, ele busca por padrões, luzes e geometrias, transformando passeios e viagens em oportunidades de capturar novas composições. Mas, assim como um bom fotógrafo, o acaso também tem papel fundamental nas belas imagens que captura. Foi assim que, em um dia comum, registrou uma cena que se tornaria especial: um dirigível cruzando o céu de São Carlos.

“Eu estava na rua de casa quando vi um dirigível indo na direção  do centro. Esperei o momento em que ele passaria sobre a catedral para fazer a foto, que depois acabou virando cartão-postal da cidade”, lembra.

Outro hobby de Alneu é pegar a moto e sair em busca de contato com a natureza, sempre registrando as paisagens pelo caminho. Para ele, pilotar é mais do que lazer: é uma forma de se manter no presente.

Como dizem, “Se você pensa demais no futuro, sente ansiedade; se pensa demais no passado, sente tristeza. A moto te obriga a pensar no aqui e agora. É preciso atenção total, porque não há airbag e você é o para-choque, brinca. Cada movimento exige presença”, explica.

“Gosto de estar na natureza e registrá-la. Sempre há algo novo e interessante para descobrir”, conta o professor Alneu | Imagem: Arquivo pessoal

Por que escolher o MBA em IA e Big Data da USP? 

Para o professor Alneu, há três motivos que fazem o MBA em IA e BigData da USP valer a pena. O primeiro é a atualidade: as disciplinas são ministradas por professores que pesquisam o tema e levam o que há de mais novo diretamente para a sala de aula. O segundo é o equilíbrio entre teoria e prática: problemas reais são tratados com método, transparência e foco em soluções. E o terceiro é o desafio: “É puxado, e isso é bom. O sentimento de conquista faz parte do aprendizado”, afirma.

A quem está chegando, ele deixa um conselho simples e direto: mergulhe. 

“Os grafos ajudam a tornar problemas complexos mais claros e compreensíveis”, destaca.

Por Gabriele Maciel, da Fontes Comunicação Científica