Se fosse do pagode, a música que embalaria a trajetória do professor MBA em IA e BigData da USP, Marcelo Manzato seria Deixa a vida me levar, de Zeca Pagodinho. Mas os cabelos compridos e a foto de perfil em que aparece tocando guitarra não deixam dúvidas: ele é do rock.
Caçula de três filhos, Marcelo cresceu cercado de música, arte e da influência fraterna dos dois irmãos mais velhos. Foi, inclusive, por vontade do irmão do meio, chamado Gustavo, que ele acabou se interessando em aprender órgão eletrônico, quando tinha por volta de 8 anos.
“Ele quis aprender e eu acabei indo junto”, conta.
Quando a adolescência chegou, o rock falou mais alto. Trocou o instrumento pela guitarra e, desde então, não largou mais. Hoje, é guitarrista da banda Upgarden, que se apresenta em bares da região de São Carlos nos fins de semana, com um repertório que passa por AC/DC, Guns N’ Roses e Pearl Jam. Mas o professor tem predileção pela banda brasileira Angra, tendo gravado algumas músicas para o seu canal do Youtube. A dedicação e excelência técnica dos músicos são qualidades que ele aprecia e que também o inspiram na vida profissional.
“Eu tenho bastante disciplina e tento seguir uma rotina que me permita ter tempo para estudar guitarra e tocar com meus amigos. Então, das 8h às 18h, me dedico a dar aulas e orientar alunos. Depois gosto de tocar minhas músicas e aprimorar”, conta.
Com tantas aptidões artísticas, Marcelo chegou a cogitar cursar Artes Plásticas ou Publicidade. Mas foi por influência do irmão mais velho, chamado Daniel, que era estudante de Computação, que o professor acabou optando pela profissão. “Ele me explicou como eram as aulas, como funcionavam os códigos, e eu acabei me interessando. Acho que, se tivesse seguido o outro caminho, a música e a arte teriam deixado de ser um hobby”, relembra.

Carreira na computação
Marcelo prestou vestibular em algumas universidades, e o destino acabou o levando para o Paraná. Foi na Universidade Estadual de Londrina (UEL) que cursou Ciência da Computação, uma experiência que trouxe aprendizados para além das salas de aula.
“Tive que aprender a me virar, foi uma época importante de amadurecimento”, lembra.
Durante a graduação, ele conta que não se sentia motivado a entrar no mercado de trabalho e seguir pesquisando acabou sendo o caminho mais natural. “Na época, eu pensava assim: ‘O que aparecer, eu vou seguir’. E acabou que recebi o aceite do mestrado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) antes mesmo de colar grau. Precisei, inclusive, me formar um pouco antes da minha turma para dar conta do cronograma”.
Apesar de ter feito iniciação científica na graduação, a certeza de que seguiria na vida acadêmica só veio no doutorado, quando trabalhou por um período em uma empresa. “Ali eu tive a certeza que meu negócio era ser professor e pesquisador”.
Se até o mestrado suas pesquisas estavam voltadas para sistemas multimídia, no doutorado, também no ICMC, Marcelo mergulhou nos Sistemas de Recomendação.
“Esses sistemas estão cada vez mais presentes na vida das pessoas. Das redes sociais, que sugerem conteúdos, às plataformas de streaming, tipo Netflix, que indicam filmes com base no perfil do usuário”, explica.
Foi também durante o doutorado que uma nova oportunidade surgiu, novamente com um empurrão familiar. O irmão do meio, hoje professor de Engenharia Civil na Unesp, havia feito o doutorado na Holanda e incentivou Marcelo a buscar a mesma chance. Ele passou seis meses no centro de pesquisa CWI, em Amsterdã. “Mesmo sendo de uma área diferente, meu irmão me ajudou a encontrar o caminho. Não era algo planejado, mas deu certo. A história da minha carreira é cheia de acasos assim”.
Ao concluir o doutorado, no início de 2011, surgiu um concurso público no ICMC, justamente em sua área. Ele foi aprovado e, em agosto daquele ano, já estava em sala de aula. Desde então, construiu sua trajetória na instituição, onde hoje coordena o bacharelado em Ciência da Computação.

Marcelo gosta especialmente de dar aulas na graduação, por ter maior proximidade com os alunos e também por poder acompanhar suas trajetórias mais de perto. No MBA em Inteligência Artificial e BigData da USP, atua como professor da disciplina Análise de Dados Multimídia e como orientador de trabalhos de conclusão de curso (TCC). Atualmente, ele orienta oito trabalhos, com temas que vão desde detecção de anomalias e personalização de e-commerce até sistemas de recomendação, sua especialidade.
“Temos muitos alunos do setor de bancos e finanças, e os mesmos modelos utilizados para sistemas de recomendação, como classificação e regressão, também são aplicáveis nessas áreas”.
Para ele, os diferenciais do MBA estão na possibilidade de o aluno personalizar a própria trilha, o apoio de professores e monitores nas tutorias, as atividades síncronas e o contato com outros profissionais em eventos e palestras. “É um curso vivo, com interação real. Não é só vídeo gravado” destaca.

Infância e paixões
Natural de Bauru (SP), Marcelo foi uma criança um tanto arteira. Não só por seu talento para as artes, já que fazia aulas de pintura, cujos quadros até hoje enfeitam a casa de sua mãe, mas porque estava sempre inventando alguma coisa. “Eu era daqueles que viviam aprontando”, brinca.
Com a adolescência, veio uma mudança de ritmo. “Fui ficando mais tímido, o que é natural conforme os interesses vão mudando”, conta. Nesse processo de amadurecimento, os dois irmãos mais velhos continuaram a ser referência e até hoje a relação entre os três é marcada por parceria e afeto.
Atualmente a paixão pela guitarra divide espaço com o ciclismo. Há mais de dez anos, Marcelo pedala por trilhas e estradas. Já percorreu três vezes o Caminho da Fé, uma jornada de mais de 500 quilômetros entre São Carlos e Aparecida do Norte. “A motivação principal é o desafio e o prazer de pedalar, mas o lado espiritual também toca, especialmente na chegada à Basílica”.
Casado com uma professora da área de computação, Marcelo segue confiando que sua dedicação trará bons resultados, seja na sala de aula e na pesquisa, seja nos pedais ou em seus solos de guitarra.

Por Gabriele Maciel, da Fontes Comunicação Científica
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