A inteligência artificial (IA) está rapidamente redesenhando o cenário corporativo global. De ferramentas de automação a assistentes de decisão baseados em dados, a tecnologia já movimenta bilhões e influencia cadeias produtivas em todo o mundo. Estima-se que o mercado de big data — base essencial para sistemas de IA — ultrapassará US$103 bilhões até 2027, impulsionado por soluções de software que representam quase metade desse montante, segundo a consultoria Statista.
No Brasil, o avanço é igualmente expressivo: 58% das empresas já utilizam IA em suas rotinas, conforme levantamento da empresa de consultoria Deloitte realizado em 2024. Destas, 79% pretendem expandir o uso da tecnologia para novas áreas. O país também lidera na América Latina quando se trata da aplicação de soluções analíticas com IA, com 63% das empresas já integrando esses recursos, acima da média regional de 47%. Mas por que as empresas apostam tanto na IA?
“A inteligência artificial é hoje o motor invisível que acelera inovações, conecta saberes e nos convida a repensar o futuro — não como algo distante, mas como um presente em construção, em todos os setores da sociedade”, explica Solange Oliveira Rezende, professora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da USP, em São Carlos, e coordenadora do MBA em Inteligência Artificial e Big Data.
De acordo com a Microsoft, cada dólar investido em IA generativa tem gerado, em média, um retorno de 3,70 dólares para as empresas. A seguir, conheça como a IA está sendo aplicada em diferentes setores da economia.
Moda e varejo
Desde a cadeia de produção até a oferta final ao consumidor, o setor de moda e varejo tem adotado amplamente soluções de inteligência artificial. Segundo a pesquisa global da RELEX Solutions, 31% dos varejistas brasileiros utilizam IA para otimizar suas operações e ajustar preços em tempo real, enquanto 59% expandiram seus portfólios de marcas próprias com base em análises de dados de consumo. Ferramentas como sistemas de recomendação personalizados, atendimento automatizado e logística preditiva tornam-se cada vez mais indispensáveis para atender a um consumidor exigente e conectado.
Casos internacionais exemplificam esse avanço: a marca de varejo de beleza Sephora inaugurou em Cingapura uma “Store of the Future”, que conta com um dispositivo Color IQ, que analisa a pele por meio de IA para indicar a tonalidade ideal de maquiagem, sem contato físico. Por outro lado, a grife britânica Burberry recorreu a algoritmos de IA para reinterpretar mais de 150 anos de arquivos de design e criar novas padronagens e cores, liberando os designers a focar em aspectos mais criativos. Já a Adidas incorporou um sistema de personalização com IA que permite aos clientes criarem seus próprios produtos, ajustando padrões e materiais, o que fortalece o engajamento direto com a marca.

Setor automotivo
De acordo com estudo da empresa de tecnologia IBM, mais de 70% das montadoras globais planejam aumentar os investimentos em IA até 2026. No Brasil, Volkswagen e GM lideram essa transformação com sensores inteligentes e IA na produção. Globalmente, empresas como Tesla, BMW e Hyundai utilizam IA em direção autônoma, design de veículos, controle de qualidade e experiência embarcada. Os sistemas também ajudam seguradoras a monitorar comportamentos ao volante.

Indústrias de consumo
A IA é utilizada para gerenciar estoques, prever demanda e manutenção preventiva e por estratégias de marketing. Segundo a RELEX, 70% dos fabricantes de alimentos e bebidas intensificaram o uso de descontos e promoções com IA. A Coca-Cola, por exemplo, aplica algoritmos para prever consumo por região e ajustar logística. A Heineken, com o sistema IDDA, oferece aos representantes de vendas sugestões personalizadas com base em dados. A tecnologia também é utilizada para o mapeamento da coloração da cerveja avaliando se o produto está padronizado ou não. Antes, essa etapa do processo de produção era feita por olho humano.
Agropecuária
Com papel central na balança comercial do país, o setor agropecuário enfrenta um duplo desafio no século XXI: aumentar a produtividade para atender à crescente demanda global por alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto ambiental de suas atividades. Nesse contexto, a inteligência artificial surge como uma aliada estratégica da chamada agricultura 5.0.
Atualmente o Brasil conta com cerca de 1.953 agtechs, startups que aplicam tecnologia ao campo. Uma delas, chamada de A de Agro, desenvolveu um sistema que interpreta imagens de satélite com IA para prever tendências de produtividade. Já no campo internacional, empresas como a John Deere lideram o desenvolvimento de tratores autônomos, capazes de plantar, colher e adubar com mínima intervenção humana. A Tereos, grupo agroindustrial francês com atuação em canaviais paulistas, utiliza sistemas baseados em IA que processam imagens de satélites e drones para monitorar lavouras, prever falhas e identificar pragas.
A Bosch aplica IA no cruzamento de dados climáticos e biológicos para prever o aparecimento de doenças nas plantas e acionar sistemas de pulverização de forma precisa e preventiva. Outro exemplo é a empresa Boehringer Ingelheim, que implementou sensores em granjas para monitorar em tempo real a saúde de suínos, detectando doenças antes que se espalhem.
A adoção da IA no campo não apenas melhora a produtividade e a qualidade dos produtos, mas também permite um uso mais racional de insumos como água, fertilizantes e defensivos, contribuindo para uma produção mais sustentável e eficiente.

Finanças
O setor financeiro está entre os mais avançados na adoção de inteligência artificial, impulsionado pela necessidade de mitigar riscos, prevenir fraudes e personalizar serviços em tempo real. Globalmente, segundo a Deloitte, mais de 60% das instituições financeiras já utilizam IA para fortalecer suas operações de segurança e compliance. Por outro lado, a empresa de consultoria McKinsey estima que a automação com IA pode gerar até US$ 1 trilhão em valor adicional ao setor bancário nos próximos anos.
No Brasil, bancos digitais como Nubank, Inter e C6 Bank lideram o uso de IA. Já as grandes operadoras de cartões como Visa, Mastercard e PayPal aplicam algoritmos de machine learning para analisar comportamentos de consumo e bloquear automaticamente transações fraudulentas em frações de segundo, reduzindo perdas e aumentando a confiabilidade do sistema financeiro.
Além da segurança, a IA tem sido utilizada na análise de grandes volumes de dados financeiros para recomendar investimentos e construir carteiras personalizadas com base nos perfis dos usuários.
Saúde
A área da saúde vive uma revolução digital impulsionada pela inteligência artificial. Segundo relatório da Precedence Research, o mercado global de IA em saúde deve alcançar US$ 613 bilhões até 2034, com uma taxa de crescimento anual de 36,8%.
Ferramentas como o MedAware e o DXplain auxiliam profissionais a evitar erros de prescrição e a refinar hipóteses diagnósticas com base em manifestações clínicas. O Med-PaLM 2, desenvolvido pelo Google, é um modelo de linguagem especializado em saúde capaz de responder perguntas clínicas com alto grau de precisão, e está sendo testado por instituições médicas de renome. Já a parceria entre a Microsoft e a empresa de software Epic criou soluções que automatizam mensagens a pacientes e interpretam prontuários eletrônicos com auxílio do ChatGPT.
Grandes farmacêuticas como Pfizer, Genentech e Sanofi utilizam IA para acelerar pesquisas e ensaios clínicos. A tecnologia permite analisar grandes volumes de artigos científicos, dados genômicos e históricos de pacientes para identificar novas moléculas promissoras e viabilizar medicamentos mais personalizados.
Na gestão hospitalar, a GE HealthCare desenvolveu centros de comando que usam IA para prever fluxo de pacientes, otimizar alocações de leitos e monitorar adesão a protocolos clínicos em tempo real. Essas soluções já operam em hospitais como o Johns Hopkins, nos EUA, e o Bradford Royal Infirmary, no Reino Unido.

Caminhos para o futuro
Apesar dos avanços expressivos na adoção de inteligência artificial, uma parcela significativa das empresas ainda enfrenta entraves que limitam seu potencial de transformação. Conforme revelou o estudo da RELEX Solutions, 44% das organizações relatam dificuldades para contratar profissionais qualificados para operar soluções baseadas em IA. Esse gargalo de talentos torna-se um dos principais desafios à medida que a demanda por automação, análise de dados e inovação cresce em escala acelerada.
Nesse cenário, programas como o MBA da USP em Inteligência Artificial e Big Data assumem um papel essencial. Voltado à formação de lideranças capazes de compreender, aplicar e escalar soluções de IA com visão ética e estratégica, o curso oferece uma base sólida para profissionais que queiram liderar a inovação.
Texto: Gabriele Maciel, da Fontes Comunicação Científica
Fontes pesquisadas
Estudo de caso: A “Loja do Futuro” orientada por IA da Sephora – AIX | Rede de especialistas em IA
AI Adoption Statistics: Key Insights for Companies
KPMG Global AI in Finance Report – KPMG Brasil
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